Profissional está demorando mais tempo para conseguir trabalho.
Além da crise, falta candidatos com o perfil exigido.

Fazer cursos é importante mesmo para o profissional que está trabalhando. Atualmente está mais demorado achar uma vaga, não só por causa da crise, mas muitas vezes, porque falta candidato com o perfil exigido.
Dados de 11 unidades de uma das maiores e mais antigas agencias de recrutamento do Brasil mostram que o profissional que tem nível superior levou quase três meses para arranjar emprego, de janeiro a março deste ano. Em 2014 essa procura durou dois meses. Quem fez curso técnico levou 84 dias, uma semana a mais do que no ano passado. Já quem terminou o ensino médio demorou até 55 dias para achar uma vaga. No ano passado, a espera era de 51 dias.
Segundo Renata Motone, consultora de recursos humanos da Luandre, não adianta ter apenas a formação básica. As empresas querem, mais do que nunca, um currículo recheado: “As empresas aumentam a exigência para abrir uma vaga justamente porque ela não quer um alguém para ser desenvolvido, para ser treinado. Ela quer trazer alguém pronto de verdade. Desenvolver um profissional internamente significa um custo, um gasto para esta empresa, que ela neste momento não quer ter”.
Cursos pelo Brasil
Com esse cenário, a dica é ir em busca de qualificação. Em Campo Grande (MS), containeres têm virado sala de aula e os trabalhadores aprendem de graça em 28 bairros. Uma das turmas é a de costura industrial. Ao todo são 29 cursos diferentes com duração média de dois meses.
Assim que termina uma turma começa outra, férias só em dezembro e janeiro. Quatro mil e setecentos trabalhadores devem ser qualificados até o fim do ano. Antônia Jorge Machado espera sair do curso de costura com emprego garantido: “Empregada e trabalhando, fazendo muita roupa mesmo. Roupa bonita, terno, vestido de noiva e assim por diante”.
Outro curso forma mecânicos em manutenção de motores de veículos. Em todo o estado são 100 containeres em 24 cidades. O melhor desse projeto é que os alunos podem estudar pertinho de casa. “A ideia é trazer a escola até os bairros, casada com a demanda industrial da região”, explica Marcos Costa, gerente da Fatec Senai de Campo Grande.
Em Fortaleza, as pessoas que procuram emprego podem se qualificar enquanto estão na fila esperando atendimento no Sistema Nacional de Emprego (Sine). Elas pegam a senha e até serem chamadas para fazer o cadastro podem escolher um dos sete cursos oferecidos. Os palestrantes dão oficinas que têm entre 40 minutos e uma hora de duração. Eles ensinam, por exemplo, a fazer o currículo de forma correta, falam sobre postura profissional e sobre os erros mais comuns durante uma entrevista, como se vestir de forma muito informal, mascar chiclete e interromper o entrevistador enquanto ele está falando.
O Sine também oferece cursos mais longos, de quatro horas, sobre orientação para o mercado de trabalho. Nesse caso, o candidato pode se inscrever para fazer em outro dia.
Em São Paulo, a administradora Ana Carolina Schultz, a vendedora Luiza Marques e o encanador Tedson Camargo estão esperando há meses por uma chance. A favor deles estão os anos de experiência. Ana, por exemplo, fez faculdade de marketing, mas quer continuar atuando em administração, como fez por dez anos. Só que ela e as vagas andam se desencontrando: “Tem vagas que eu mandei currículo em fevereiro e a vaga ainda está em aberto”.
Luiza bem que tentou trabalhar como operadora de caixa, mas não deu. O salário era menor e ela não levava jeito. O que ela quer mesmo é voltar a ser vendedora, mas ela não está conseguindo: “Tem vaga, porque você entra no site e vê várias agências procurando na minha área e não consigo”.
Dos três, Tedson foi o único que saiu da agência feliz da vida. Desempregado desde fevereiro, ele acaba de ser contratado por um shopping como encanador. Curso de especialização ele ainda não tem, mas tem experiência de cinco anos na área. Ele sabe que precisa voltar a estudar para melhorar de vida, só que agora vai ter mais tranquilidade para correr atrás: “Estão me oferecendo vale-transporte, vale-refeição, convênio médico, que para mim é essencial, porque eu tenho filhos. E o salário é ótimo! Vai ajudar bastante”.
No Rio Grande do Sul, tem muita gente aproveitando os cursos profissionalizantes do Senac para se qualificar de graça. Uma das opções é o curso técnico em marketing. A estudante Letícia Bolzzonji já tem um curso técnico e, mesmo assim, está em busca de outra qualificação: “Eu já sou sommelier internacional e estou buscando aperfeiçoamento na minha área. Estou muito feliz, porque esse curso abrange muitas áreas e abre muitas portas para o mercado profissional”.

Para o professor Leonardo Ustra, esse é o caminho: “O ideal é que o profissional venha a estar pronto, para que assim que termine a crise que a gente está enfrentando, o mercado possa absorver ele”.
O estudante Joel Henrique Puton sabe bem disso e já está no terceiro curso: “Creio que deveria ter muito mais gente aproveitando essas oportunidades. É muito bom, é sempre bem-vindo”.

O Senac no Rio Grande do Sul tem hoje quase 600 vagas abertas em cursos que são oferecidos de graça em mais de 10 cidades gaúchas. Os mais procurados são os de auxiliar administrativo e vendedor. Para participar do programa, é preciso ter mais de 16 anos, ensino médio completo ou em andamento e a renda familiar não pode ultrapassar dois salários mínimos por pessoa.